Quando iniciei a leitura deste livro, entusiasmei-me por ser um livro de viagens. Ora todos sabemos que o leitor é um viajante que busca um principe ou princesa encantados ao redor de cada esquina. Depois, a escrita enovelou-se como a filigrana de um desenho tão fino que escapasse ao roer das térmitas .

Ah! Descobri! são cidades imaginárias porque embora existam, viveram num tempo antes de nós e por isso Calvino teve de viajar, imaginando-se num tapete voador, no tempo em que Marco Polo e Kublai Kan viveram. E as histórias correm ao sabor das vivencias destes dois personagens, pelas terras e pela história que são reais. Neste real cristalino crescem ideias, sementes de imagens.

São todas cidades femininas ou habitadas por célebres mulheres: Diomira, Isidora, Doroteia, Isaura,Maurilia, .... A textura da escrita enovela-se e o leitor parece perder o fio da razão. As vezes com medo de a perder, para-se a leitura.. mas outro dia, o livro encantado atrai-nos de novo.

Por vezes basta um breve trecho que se abre numa paisagem, um aflorar de luzes no nevoeiro, um dialogo de transeuntes que se encontram ao acaso, para, partindo de ali, juntar peça a peça a cidade perfeita. Fragmentos misturados, instantes separados, por sinais que alguém manda sem saber quem os apanha .

Afinal, um livro que era para ser dificil, levou-me a escrevinha-lo de manuscritos meus em muitos dos espaços entre as cidades. Ficaram dois livros em um só.

Por isso ( e porque me foi oferecido por alguem que aprecio) resguardo-o em colecção permanente, mas sem excluir que possa viajar( mas só um pouco). Afinal é um livro de viagens.