E se Obama fosse africano?
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Na sequência do anterior "Pensatempos", Mia Couto ressurge com um conjunto de textos de intervenção que resulta da sua participação em encontros públicos nos últimos anos. São textos de reflexão crítica de um autor de ficção que, ao mesmo tempo que reinventa o seu universo, não abdica da sua missão de pensar o mundo. As intervenções abordam temas que vão da política à literatura, da cultura à antropologia, mas todos eles confirmam como o escritor moçambicano faz da sensibilidade poética um modo de entender a complexidade do nosso tempo.
Nunca tinha lido Mia Couto sem ser em ficção. Foi uma leitura global interessante mas, tratando-se de uma colecção de textos independentes, sobre assuntos diferentes, os que estavam mais focados em questões de Moçambique e da "africanidade" não me disseram tanto como outros... Gostei em particular do último texto, que dá título ao livro e que foi escrito em 2008 no rescaldo da primeira eleição de Obama. Aqui fica um pequeno trecho: "Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?)."
Ficou nas mãos de uma amiga da DangerousWoman num encontro no Guarany no dia 25 de Abril (no âmbito do Troque)...